Sábado, 7 de maio de 2011, um dia que vai entrar na história do futebol do Distrito Federal. Durante um bom tempo os torcedores da Sociedade Esportiva do Gama sonharam com o dia em que o clube mais popular e querido do DF faria uma grande partida em seus domínios, após a brilhante reforma que transformou o Bezerrão em um estádio moderno, cuja reinauguração, com aproveitamento apenas do terreno, ocorreu no dia 19 de novembro de 2008.

Naquele dia a Seleção Brasileira, composta pelos seus principais nomes, derrotou por 6x2 o selecionado de Portugal. Um grande público compareceu na festa promovida pela CBF.

Depois, no dia 7 de dezembro de 2008, houve no Bezerrão uma importante partida entre o São Paulo e o Goiás. Naquele jogo o tricolor paulista conquistou o título de Campeão Brasileiro daquele ano ao derrotar a equipe esmeraldina pelo placar de 1x0.

Até aqui, como se observa, os espetáculos apresentados no Bezerrão não tiveram como destaque a Sociedade Esportiva do Gama. É bom que se registre, que desde a modernização do Bezerrão, o Gama em três oportunidades levou um excelente público ao estádio, sempre em partidas disputadas com o seu arquirrival, o Brasiliense.

Ontem, definitivamente, a Sociedade Esportiva do Gama recebeu o maior público do remodelado Bezerrão. Ao todo ali compareceram 14.912 torcedores/pagantes, sem considerar aqueles que não foram computados nos borderôs. Uns por esperteza, outros por julgarem merecedores de regalias proporcionadas pelos cargos que ocupam na administração pública, o que fere o princípio da impessoalidade, pois não é prerrogativa de cargo público receber passe livre para eventos de qualquer natureza.

Durante a semana o jogo de ontem foi o grande tema nos debates sobre o futebol no DF, com destaque à imprensa que divulgou a matéria em todos os seus segmentos. Tudo isso tem uma razão sublime, a ascensão do Gama alicerçada nas últimas partidas quando derrotou os seus adversários e deixou para traz a última colocação no quadrangular para terminar esta fase do campeonato em primeiro lugar, com dois pontos de diferença do segundo colocado, o Brasiliense.

Foi, assim, neste compasso, que comecei a analisar o comportamento dos torcedores, não apenas os torcedores fanáticos do Gama, entre os quais me incluo, mas outros que mesmo torcendo pelo Gamão há tempo não compareciam aos jogos para prestigiarem a equipe alviverde, em virtude do retrocesso que o time viveu nos últimos anos, com respaldo negativo atribuído aos membros da sua inoperante Diretoria. Somam-se à torcida do Gama torcedores de diversos clubes brasileiros que nutrem especial admiração pelo decacampeão do DF.

Com os lampejos de sucesso desenhados em resultados convincentes nas últimas partidas, diante de equipes classificadas pela opinião pública como credenciadas ao título Candango de 2011, a exemplo do Brasiliense e da sensação do campeonato, o Formosa-GO, muitos torcedores saíram do anonimato e compareceram ao Bezerrão na tarde/noite de ontem para vibrarem com o Gama.



Os gritos de incentivos da fantástica torcida alviverde ecoaram em todos os quadrantes do estádio, que estava lotado na sua capacidade máxima, à exceção do espaço reservado à torcida do Brasiliense, que não compareceu em número suficiente para ocupar na integralidade a ala norte e aplaudir o Jacaré.

Os jogadores do Gama, mesmo com os bolsos vazios, se encheram de esperança e de orgulho por defenderem a história de uma equipe que possui sólida identidade com a comunidade. O resultado da partida 1x1, em gols construídos nos últimos cinco minutos da etapa final silenciou, em parte, a torcida do Gama que viu o time da casa abrir o placar aos 41 minutos do segundo tempo, com o oportunismo do jogador Hugo e logo em seguida, talvez por falta de malícia do seu jovem plantel, cedeu o empate, em jogada concluída pelo atleta do jacaré Rafael, quando faltavam poucos minutos para o término do jogo.

Ao meu lado, na arquibancada oeste, dividi as emoções do jogo com os torcedores que levei ao estádio, o meu vizinho Márcio Melo, oficial da Aeronáutica, o meu odontólogo Geraldo Magela, que saiu do Sudoeste para se juntar à torcida do Gama. Ele fez excelente avaliação crítica sobre o jogo e demonstrou que conhece bastante de futebol com os seus esquemas de organização e distribuição de jogadas.




O meu primo, José Arnaldo, que mora em Samambaia, e que sempre gostou de futebol ao vivo, nos acompanhou nesta caminhada de sonhos e esperança. Ele analisou o jogo com aguçada experiência, pois sempre jogou muito bem. Ele disse que o Gama, pelo futebol apresentado ontem, reúne todos os méritos para disputar, com êxito, o título na última partida, que será realizada no próximo sábado, dia 14, no Estádio Serejão, em Taguatinga, às 18h30.

Sobre o Estádio Serejão, julgo oportuno tecer algumas considerações, principalmente, no que diz respeito às condições de segurança e policiamento. A segurança nas imediações daquela praça esportiva é precária. Quase sempre a ação da Polícia Militar do DF, quando se trata de jogos entre Brasiliense e Gama, naquela região, tem se mostrado de forma bastante confusa e tendenciosa, com nítido comportamento em desfavor dos torcedores do Gama.

No jogo do dia 30 de abril de 2011, Brasiliense 1 Gama 2, diversas imagens foram produzidas e substituem as minhas palavras para confirmar o que estou escrevendo, ao me reportar às condições precárias de segurança no Estádio Serejão. Neste blog há farta publicação de imagens que ilustram muito bem o que estou afirmando. Não se trata de insinuação desdenhosa. Nada disso.

Voltando à festa de ontem, recordo que logo que cheguei nas proximidades do estádio Bezerrão, por volta das 17h30, percebi que ali havia um clima de festa, com total segurança. A festa traduzia o sentimento da comunidade que recebia os seus moradores e torcedores de outras localidades que ali se dirigiam, em sua imensa maioria, para torcerem pelo Gama.

Tudo anunciava, com antecipação, que ali, em breve, seria escrita mais uma página do futebol candango, com a linha de favoritismo depositada nas pretensões do Gama. Antes do jogo os arredores do Bezerrão estavam coloridos com o tingimento da esperança. As cores verde e branca predominaram. A paz se fez presente, mais uma vez. O melhor de tudo: não houve tumulto. Um grande contingente de policiais militares se encarregou de manter a ordem. Parabéns!!

Logo ao chegar perto do Gama Shopping observei que as pessoas se misturavam na busca de cumprimentos cordiais. Identifiquei imediatamente a presença de torcedores históricos. A alegria conquistou o seu espaço no sorriso ostentado pelas crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos que estavam aglomerados na praça de alimentação. Aquele local se transformou numa espécie de ponto de concentração da torcida gamense.

Confirmei, mais uma vez, que o futebol na sua inexplicável química sintetiza a junção de situações opostas pela cultura, religião, idade, condição econômica, social e política.

Durante o jogo vivi momentos de êxtase. Olhava para um lado e outro na vã tentativa de formular uma linha de raciocínio que explicasse tudo aquilo que eu observava. O time do Gama ao adentrar ao estádio foi acompanhado de uma faixa que pregava o combate ao uso da droga conhecida por crack, que nos últimos anos tem produzido resultados nefastos no seio da sociedade brasileira.



A festa continuava e as arquibancadas produziam uma sinfonia uníssona que se ampliava com o som que vinha das tribunas onde estavam os dirigentes das equipes, com destaque ao ex-senador Luiz Estevão que foi ovacionado negativamente pela torcida do Gama. Tudo era pura alegria, descontração e deleite aos olhos e ouvidos do público ali presente. Acho que até a pequena torcida adversária gostou do espetáculo. Com isso fica patente que ontem tivemos o maior público do campeonato deste ano situação que, com certeza, não será superada na próxima partida.

Nos alinhavos da minha capacidade de observação, constatei que, de repente as barreiras construídas pelos desnivelamentos sociais foram destruídas e todos se reuniram ali para professar o mesmo sentimento: torcer pelo Gama.

Fica aqui o meu registro de admiração à capacidade de luta e superação dos cadeirantes e outros portadores de necessidades especiais que conseguiram espaço adequado para levarem o seu apoio à Sociedade Esportiva do Gama. A título de ilustração, cito aqui o nome do senhor Tarcísio, que estava eufórico com o uniforme do Gamão, durante o intervalo da partida quando o encontrei na área de dispersão, nas proximidades dos banheiros.



Não vamos nos dispersar. O empate foi um bom resultado, não diria o melhor, pois a vitória sempre foi e vai continuar sendo a nossa pretensão maior. O importante é que não perdemos a batalha. O Gama precisa muito dos nossos gritos de apoio e incentivo para que saia vitorioso e campeão nos domínios do Brasiliense, no próximo sábado, dia 14 de maio de 2011.

Remy Soares de Carvalho
É Sócio Torcedor do Gama e mora na Asa Norte