sábado, 20 de dezembro de 2008
10 ANOS DO TÍTULO: Londrina chora até hoje a derrota
(fonte: Jornal de Londrina)
Para quem torce pelo Londrina, 1998 também foi um ano que não terminou. No primeiro semestre, a vergonha de um inédito rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Paranaense. No segundo, a euforia, seguida de decepção, indignação e revolta pela forma como o clube deixou escapar a oportunidade ímpar de chegar ao primeiro escalão do futebol brasileiro.
O vexame da queda à segundona estadual foi reparado no ano seguinte, quando o time conquistou um título legítimo, embora nada nobre, e retornou à primeira divisão. Mas a perda da vaga na Série A do Brasileirão nunca foi superada. Deixou marcas e questionamentos. Uma imensa ferida que, exatos 10 anos depois, ainda não cicatrizou.
Difícil imaginar o que aconteceria se na tarde de 20 de dezembro de 1998 o Tubarão tivesse sido realmente destemido em Brasília, como prega o hino, e vencesse o Gama no Mané Garrincha lotado. Suportaria o peso de uma conquista histórica? A cidade finalmente acolheria o filho enjeitado?
O certo é que em uma década o clube só tem feito sofrer. Ferido no orgulho, sorri amarelo com um título regional e um lugarzinho na recém-criada Série D. É pouco. É muito pouco.
O JL voltou dez anos no tempo e foi à caça de personagens que direta ou indiretamente estiveram em cena naquela amarga e duradoura derrota por 3 a 0 na capital federal. Afinal, houve mesmo um esquema, como a torcida suspeitou na época? O time amarelou? De quem é a culpa?
“Isso não existe, é coisa de torcedor, de cara atrasado”, rebate o técnico Varlei de Carvalho. De Bauru, onde mora e aguarda uma oferta de emprego, ele rechaça qualquer suspeita que possa existir a respeito da conduta dele, da diretoria e de seus jogadores na ocasião.
“Nós perdemos no terreno do jogo, meu irmão. Perdemos lá dentro. Você acha que a gente não queria subir o time? Foi uma frustração muito grande. Fui campeão estadual com o Londrina [em 1992]. Imagina ser campeão de novo e colocar o time na elite do Brasileiro. Para mim seria um marco extraordinário”, afirma.
Homem-forte do futebol do Tubarão na época, o ex-vereador Célio Guergoletto também refuta as insinuações. Ele até revela que havia sim um acordo com a diretoria do Gama, mas com um outro viés. O trato foi feito assim que saiu a tabela do quadrangular final. Leia mais nas páginas 15 e 16.
LEC subiria com vitória simples
O Londrina chegou à última rodada da Série B de 1998 precisando de uma vitória simples sobre o Gama em Brasília para conquistar uma das duas vagas de acesso à Série A de 1999. O time de Varlei de Carvalho era o lanterna do quadrangular, com 5 pontos. O Gama liderava, com 7, e jogava apenas pelo empate para se classificar. Botafogo-SP e Desportiva-ES tinham 6 pontos cada e se enfrentariam em Ribeirão Preto também brigando pelo acesso. Com a vitória por 3 a 0 sobre o LEC, o time candango subiu e foi o campeão. A outra vaga ficou com o Botafogo, que acabou goleando a equipe capixaba por 5 a 1. O jornalista Roberto Naves, do Correio Braziliense, diz que o título e o acesso do Gama causaram ‘comoção’ no Distrito federal, que voltaria a ter um time na elite 13 anos depois.
Varlei se ressente de nunca mais ter voltado
O técnico Varlei de Carvalho nunca mais trabalhou no Londrina desde a derrota por 3 a 0 para o Gama, há dez anos, na última rodada do quadrangular final da Série B. Vontade ele tem, conforme revela ao JL. Mas não houve convites. “A gente fica até triste pelas campanhas que fez aí”, desabafa.
Ele não crê que a perda da vaga na Série A há dez anos possa tê-lo marcado negativamente no clube. “Eu não acredito que foi por causa disso”, responde.
Aos 63 anos, Varlei já é avô e admite que tem pensado em se aposentar “para dar lugar ao pessoal que está vindo aí”, mas também garante que por enquanto ainda tem lenha para queimar.
“Quando você fica experiente, alguns acham que você está velho. Não entendo isso. Deixa eu queimar mais um pouquinho, pô. Estou em forma. Lógico que eu queria trabalhar mais um pouquinho, se fosse no Londrina, nossa, pelo amor de Deus”, revela.
A respeito das suspeitas que perduram desde aquela derrota para o Gama, o treinador é enfático: ninguém entregou o ouro coisa nenhuma. “Não houve nada. Perdemos porque não teve jeito de ganhar o jogo. Como é que vamos entregar de mão beijada pros caras? Para eles fazerem a festa, ganharem os prêmios deles e a gente não ganhar nenhum tostão? Ninguém ganhou nada”, rebate.
O treinador cita as mudanças que foi obrigado a fazer na equipe por suspensão (caso do volante China) e contusão (o ala Arnaldo, previamente escalado, nem viajou a Brasília) e um gol sofrido logo aos 7 minutos de jogo como determinantes para a derrota histórica.
“Nosso banco era reduzido, o elenco era reduzido. Eu perdia duas, três peças e já faziam falta para mim”, alega. “Lá em Brasília usamos a estratégia de agüentar pelo menos 20, 25 minutos para depois conseguir um gol no contragolpe. Nós tínhamos um jogador muito importante lá na frente, que era o Mauro, jogador rápido pra caramba. O Alaor também fazia gol. Nós tínhamos um time bom, mas infelizmente tomamos um gol cedo”, recorda.
“Levamos o 1 a 0, só a vitória interessava, e fomos para cima do Gama. E aí nós tomamos mais dois gols, acabamos perdendo o jogo e não subimos. Foi uma frustração muito grande”, acrescenta o treinador.
Em Brasília escalação questionada
Varlei de Carvalho foi questionado por parte da imprensa por apostar numa formação contra o Gama que não havia treinado junta. Ele colocou o zagueiro Carlos Alberto na ala esquerda e pôs o reserva Marcelo na defesa, ao lado de Valder e Ivanildo. O próprio treinador admite que Marcelo falhou ao fazer a falta que originou o primeiro gol do adversário no jogo.
“O Carlos Alberto foi lateral-esquerdo no Noroeste-SP e no Palmeiras. Eu queria fazer uma defesa muito forte, muito sólida. Pus o Marcelo no lugar do Carlos Alberto, mas ele não foi muito bem”, diz o treinador. Ele não se arrepende do que fez. “Não me arrependo, era o que eu tinha.”
‘Não tinha vivência para gerir um time na Série B’
O ex-vereador Célio Guergoletto gozava de prestígio político em 1998. Presidia a Câmara Municipal e fazia oposição ao então prefeito Antonio Belinati. Acredita que até por esse fator tenha sido conduzido ao cargo de coordenador-geral do Londrina na Série B do Brasileiro. Era o manda-chuva do futebol.
“Talvez o Belinati me indicou para se aproximar mais de mim”, especula. Nunca havia sido dirigente antes. A inexperiência, diz hoje Guergoletto, o levou a cometer vários equívocos durante a campanha do Tubarão.
“Tem muita coisa que eu fiz na época e eu não faria hoje, pela falta de experiência minha. Eu não era um cara com essa vivência para administrar e dirigir um time na Série B de um Brasileiro”, reconhece.
Alguns erros, a saber: “Talvez hoje eu não teria contratado alguns jogadores que eu contratei, às vezes por conversa até do próprio Varlei de Carvalho. Eu, particularmente, dava muita carta branca”, admite.
O discurso soa como uma tentativa de tirar o corpo em relação à suspeita de que o Londrina teria negociado sua vaga à Série A com os adversários. Mas Guergoletto jura que não houve nenhum esquema.
“Eu era vereador, presidente da Câmara, político que estava no auge na época, porque bem ou mal onde eu ia falava-se no Londrina. A coisa que eu mais queria era chegar aqui e subir no caminhão do Corpo de Bombeiro. Possivelmente viraria até prefeito da cidade. Como é que eu vou vender uma vaga?”, argumenta.
Em seguida, volta a deixar uma grande interrogação no ar. “A não ser que o treinador e os jogadores se venderam sem a gente saber de nada. Não creio se isso é possível no futebol. Os jogadores também querem subir”, afirma o ex-vereador.
Muito se falou, na época, de uma suposta festa promovida pela diretoria do Gama para dirigentes do Londrina, na véspera do jogo, em Brasília. Guergoletto esclarece. “Não houve festinha nenhuma. Houve um jantar que o presidente nos ofereceu, porque quando vieram jogar aqui nós pagamos um jantar para eles também. Isso é muito comum, quando íamos jogar em Belém a diretoria do Remo levava a gente para comer coisas típicas da região. Havia uma certa amizade entre dirigentes da Série B. Mas nada de festa”, rebate.
O ex-coordenador do clube aproveita para fazer um desabafo. “O Londrina custou caro para mim. Uma reeleição, que não veio. Eu só viajava, deixei de atender o eleitorado. Perdi um apartamento em Camboriú, vendi para pagar dívida do Londrina”, enumera, para concluir. “Por isso que quem passa ali não quer voltar. A cidade condena muito, mas o pessoal não sabe o que a gente passa ali.”
LEC e Gama combinaram ajuda mútua
Se houve um esquema para o Londrina ‘vender’ a disputa da vaga à Série A em 1998, só muita apuração e um punhado de provas para saber. Mas o próprio coordenador-geral do time na época revela um outro acordo feito com o Gama no quadrangular final. O trato surgiu assim que a tabela foi divulgada, colocando os dois times frente a frente na primeira rodada, em Londrina, e na última, no Distrito Federal.
“Eu e o Antonio Amaral, que foi um cara que trabalhava lado a lado comigo, fizemos muita amizade com o presidente do Gama, Wagner Antonio Marques. Ele veio aqui em Londrina, nos reunimos no Hotel Bourbon, e fizemos o seguinte trato: se precisasse fazer um acerto, do tipo se empatar sobem os dois ou se o Londrina precisar da vitória e o Gama já estiver classificado, faríamos”, conta Célio Guergoletto. “Foi o único trato que aconteceu.”
Esta materia do correio ta errada!
Todo mundo sabe q não foi a primeira vez que o Gama esteve na elite.
SAV